10/08/22

“Novo governo federal precisa fazer a reforma tributária”, alerta Fecomércio-SC

Entidade que representa a maior parcela do Produto Interno Bruto (PIB) catarinense, 68%, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Santa Catarina (Fecomércio-SC) troca de liderança. A nova diretoria, liderada pelo empresário Hélio Dagnoni, de Balneário Camboriú, toma posse na noite desta terça-feira, no Hotel Sesc Cacupé, e assume a gestão nesta quarta-feira. Em entrevista exclusiva para a coluna, Dagnoni disse que o pleito número um da entidade ao novo governo federal é a realização da reforma tributária.

No Estado, segundo ele, as prioridades são em logística, para melhorar o deslocamento de turistas no Estado e, assim, garantir o fortalecimento do setor. Entre as ações da própria Fecomércio, a entidade pretende fortalecer os setores com mais formação técnica de trabalhadores, ações junto a governos e realização de missões empresariais.
Lojista de Balneário Camboriú, sócio da empresa Sol e Energia, Dagnoni tem formação em contabilidade, foi representante comercial por mais de 40 anos e também tem se dedicado ao associativismo. Foi presidente da CDL e do sindicato dos lojistas de Balneário Camboriú e, na Fecomércio, antes de ser eleito presidente, liderou a câmara de turismo da entidade. A seguir, os melhores trechos da entrevista.

Objetivo é simplificar o sistema de tributos, tirando o peso da atividade produtiva

Quais são as prioridades da nova diretoria da Fecomércio-SC?
– Queremos trazer fortalecimento muito grande às empresas do setor de comércio e serviços e, também, da parte do turismo, que foi o último a voltar a ter um trabalho em função da pandemia. Isso porque teve que ficar parado. Queremos um fortalecimento, com a tecnologia, que avançou muito com a chegada da Covid-19. Nós estamos buscando muito inovação e tecnologia para todos esses parâmetros que a Fecomércio representa.ara simplificar o sistema de tributos, que tiraria esse peso da atividade produtiva.

Quais são os principais desafios do setor de comércio?
– A primeira coisa que nós temos que entrar hoje é o ambiente econômico. Sabemos que hoje a taxa Selic está aumentando, nós temos uma inflação elevada, perda do poder de compra dos consumidores. Para o ano que vem, nós queremos voltar a trabalhar em setembro a Semana Verde e Amarela, para incentivar o comércio local, realizar ela antes da Black Friday (que é no fim de novembro). Nós precisamos envolver muito o nosso comércio local, que está de portas abertas para a comunidade no dia a dia. Uma dificuldade atual são os juros altos, que afetam às vendas a prazo. Sabemos que o nosso consumidor tem um aumento salarial por ano, e quando começam a disparar os preços, nós vemos que ele não consegue comprar mais nada. Ele faz economia para comprar somente aquele produto que ele necessita com maior urgência.

Como está evoluindo o setor de serviços e quais são as maiores demandas na visão da Fecomércio?
– O nosso setor de serviços, que impulsiona o crescimento econômico de 2022, tem apresentado uma alta, um volume de atividade que já vem acumulada no ano. Estamos liberando a geração de postos de trabalho. No nosso Estado, no primeiro semestre, o setor de serviços criou 43.395 novas vagas. E sabemos que quando temos emprego, há geração de renda. Traz muitos benefícios para nós. Representou em torno de 51,5% do total de 84.191 vagas que foram criadas no Estado no semestre. Isso representa muita renda e ficamos muito tranquilos, porque não temos tanto o problema do desemprego. Quando a gente não tem desemprego é sinal que a economia está indo bem.            

Vocês têm reivindicação específica para esse setor?
– Hoje, nós trabalhos muito junto ao Senac. Vamos fomentar muito o Senac, que é na área da educação. Precisamos pessoas capacitadas nos serviços. Isso valoriza o atendimento ao consumidor.         

O que o setor de turismo necessita para ter mais força, mais desenvolvimento no Estado?
– Vejo que a maior dor que existe hoje no turismo é a falta de logística. Se nós tivermos que fazer só o turismo de sol e mar, você já vê que pela logística nós já estamos prejudicados em função da BR 101, pelas entradas e das cidades, que são adjacentes à BR. Mas se começarmos a olhar o turismo para a Serra catarinense, olhar lá para o Oeste catarinense, onde nós temos que enfrentar uma BR 282, uma BR-470, você sabe que o turista não quer enfrentar esse tipo de estrada. Então, a logística é o que mais nós temos que trabalhar, temos que estar junto com o governo, mostrando essas dores, trabalhando junto à Santur. Estamos muito preocupados com o desenvolvimento dessa estrutura porque para nós termos um turismo muito forte, nós precisamos trazer o turista.

Nós temos um cenário maravilhoso, uma natureza maravilhosa, temos gastronomia, hotéis, tudo da melhor qualidade que a América do Sul pode apresentar. O fator logístico é o que mais prejudica, hoje, no meu ver, o turismo de SC. Vamos pegar um exemplo, aqui. Pegamos um voo até Brasília, depois pegamos mais três horas e meia de carro para ir em uma água termal, enquanto aqui em SC, quantas águas termais nós temos? É o turismo do termalismo, que não conseguimos divulgar aqui simplesmente por causa falta de logística. A Fecomércio e o Senac, muito em breve, lançarão uma campanha para divulgar o termalismo em SC, essa é uma das nossas bandeiras.

Que outros programas vocês planejam para o turismo, além desse das águas termais?
Nós temos projetos para trabalhar nas instâncias de SC (organizações que têm a participação do setor privado, poder público e entidades sociais). Quando a gente começou o programa Turismo em movimento, nós tínhamos 12 instâncias de governança. Hoje, temos 13. Nós precisamos, muito em breve, passar para 14, ou 15 para elas terem uma administração melhor, para poder apresentar e vender as suas regiões. Temos várias regiões muito grandes, que ainda não conseguem ter uma visão generalizada do poder da venda de seus produtos. Precisamos trabalhar isso. SC sempre está muito na frente dos outros Estados porque aqui nós temos cidades pequenas e algumas agrupadas a outras.

Você pega um carro e sai de Florianópolis até Itajaí. Em 100 quilômetros passa por diversas cidades. No Mato Grosso você roda 150 quilômetros para chegar na próxima cidade. Por isso precisamos de mais instâncias de governança.

O que a nova diretoria planejou para a área de internacionalização?
Nosso plano é voltar a fazer missões internacionais. Pretendemos fazer viagens de negócios para Nova York onde tem a feira anual do setor, ao Vale do Silício, voltada totalmente para tecnologia. Também planejamos ir para a Alemanha, em viagem com foco em educação e para Orlando, para observar o trabalho no setor de turismo. Também pretendemos fazer duas missões internacionais para podermos mostrar aos nosso comerciantes como eles podem fabricar lá fora para baixar o custo, para trazer para cá, e tendo seus produtos com marca própria, desenvolver, inclusive, royalties das marcas.

No ano passado, a Fecomércio passou a ser investigada por suspeita de uso indevido de recursos por alguns executivos. Em que fase está esse processo?
O que eu posso dizer é que a Fecomércio não foi investigada de nada. Foi uma denúncia referente a um diretor do Sesc. Ele teve uns problemas, alguma coisa de contratação e de denúncia de assédio. Está tudo sendo resolvido, está tudo muito bem encaminhado. A gente está dependendo do Ministério Público. O juiz vai dizer sobre o que eles fizeram, na investigação. Mas, referente à Fecomércio, ela não tem nada a ver com isso. É que o presidente da Fecomércio, é também presidente do conselho do Sesc e do Senac.

A Fecomércio está organizando pauta específica aos candidatos em função das eleições? Quais os pleitos prioritários do setor ao governo do Estado?
Nós fizemos a Carta do Comércio, na qual elaboramos um índice que varia de 0 a 10, para termos um quantitativo das perguntas. As principais dificuldades apontadas são sobre ambiente econômico, sistema tributário, administração pública e legislação trabalhista. Precisamos estar em cima disso. Nós vamos entregar essa Carta do Comércio a todos os candidatos. Inclusive nós vamos inovar. Vamos fazer tudo com gravação com os candidatos, para deixar, não só registrada a entrega da carta, mas também o depoimento deles, o que eles vão prometer e vão cumprir junto ao nosso comércio de bens, serviços e turismo.

Nós resolvemos mudar, porque todas as vezes que tem eleição, entregamos uma carta e não temos respostas. Agora, nós vamos querer, inclusive, além de entregar a carta, fazer as perguntas e ter as respostas deles gravadas. Entendemos que os eleitos em cargos públicos devem ter responsabilidades junto à Fecomércio, junto a todas as entidades que representam a nossa economia.

Pensa há quando anos nós estamos falando da melhoria da BR-470 e da BR-282. Hoje, se você perguntar para mim qual é a principal bandeira, eu estive na reunião do Conselho das Federações Empresariais (Cofem) e todas entidades alinhadas disseram que enquanto não arrumarem as BRs 282 e 470, SC vai continuar entrando no caos. Aquela BR-163, lá no Oeste. Já pensou uma rodovia aqui em Santa Catarina considerada a pior do país? Desculpa, mas isso não é coisa para Santa Catarina, né?

E o que o governo federal deve priorizar para o setor de comércio e serviços?
Eu acredito que um novo governo federal tem que fazer uma reforma tributária, para simplificar o sistema de tributos, que tiraria esse peso da atividade produtiva. Precisamos urgentemente de uma reforma tributária. Foi aprovada uma taxa temporária de 10% sobre o FGTS nas demissões sem justa causa. Era por dois anos, mas pagamos isso já há 16 anos. Será que nós estamos sendo penalizados com multa por falta de dinheiro para o governo? Está faltando uma reforma tributária até para eles. E esses 10% ficam com o governo, não vão para o funcionário.

Qual é a expectativa dos setores de comércio e serviços para este ano?
Nós temos uma expectativa de crescimento de vendas em 2022, como mostram as pesquisas de intenção de consumo das famílias catarinenses. Temos os estímulos fiscais, expansão da renda com a ampliação do Auxílio Brasil. Temos outros pacotes de auxílios, a redução dos preços dos combustíveis e da energia elétrica. Além disso, temos mais datas comemorativas no segundo semestre, como o Dia dos Pais, a Semana Verde e Amarela, Dia da Criança, Black Friday, festas de final de ano. Além disso, teremos as eleições em outubro e a Copa do Mundo em novembro.

Fonte: NSC

Escrito por: Sescon GF